segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

O que descartamos e o que vemos

Passava minhas compras no caixa quando um rapaz apareceu, sacolinha em mão, perguntando para a moça que me atendia: "- Vocês ainda recolhem pilhas usadas?". Ela negou, ele agradeceu e saiu, expressão aborrecida. Vestia roupa social e parecia um pouco apressado, então imaginei que  destinava uns minutos de seu almoço no trabalho para cuidar do descarte correto das pilhas. Ainda que não tenha conseguido, sua boa intenção foi para mim a lição do dia.  

Muitas pessoas ainda não conseguem praticar ações mais ecológicas como essa, por falta de tempo, de consciência, de oportunidades ou por diversas outras questões, e em alguns momentos olhamos para o outro no mundo e vemos motivos para lhe apontar o dedo e criticar suas atitudes. 

Mas quando estamos atentos, não há só cenas desaprováveis a se ver; quando treinamos nosso olhar, a beleza e a complexidade da vida humana se desvelam. Não existem apenas desespero e desilusão. A danada da esperança também circula por aí e, repentinamente, se você observar bem, depara-se com ela em uma segunda-feira despretensiosa, entre uma sacola verde e um carrinho de mercado.  

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O ciclo da vida

Cada vez mais me convenço de que acreditar em Deus é praticar um estado de atenção. Se você se atenta para o que acontece em sua vida dentro de si, e na vida ao seu redor, fica absolutamente claro como Deus fala amorosamente com seus filhos em todas as oportunidades.
Os dois últimos meses têm sido bastante difíceis para mim, já que estou precisando fechar algumas portas para seguir em frente e tomar os rumos que me colocarão onde devo estar. Esse é um processo sempre doloroso; é como partir para uma longa viagem sabendo que você não vai voltar. Sempre haverá a vontade de olhar pra trás; de voltar para pegar alguma coisa que você acha que vai precisar sofridamente; de ficar mais um pouco e repensar melhor se é mesmo hora de partir; e sobretudo, já nos primeiros passos, de encarar a inevitável saudade dos momentos que foram únicos, porque você não vai mais vivê-los novamente, nem ali, nem em seu novo destino. 
Mas como viajar é preciso, Deus coloca seus anjos à postos para encorajar a partida para nosso destino. No dia de hoje, minha amiga celestial de coração nobre e espírito elevado foi a Maria Silvia, a quem agradeço em eternidade, que me enviou essas palavras tão necessitadas, que tocaram fundo no meu coração. 
E essa é a missão do dia, da semana, do mês, do ano, da vida: saber o momento de dizer adeus. 


Segue o bálsamo: 


"Encerrando Ciclos 

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos - não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram. 
Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação? 
Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? 
A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações? 
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu. Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seu marido ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado. 
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar. 
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora. Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração - e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. 
Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. 
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos. Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do “momento ideal”. Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará. 
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é".

terça-feira, 12 de agosto de 2014

"Ferida que dói e não se sente"

"Por favor, por favor, que não seja o que eu estou pensando": essa foi a primeira reação do meu cérebro depois que abri a porta e me deparei com o meu álbum de figurinhas inteiramente estraçalhado, picotado, detonado, amarrotado, esfacelado, destruído, derrotado no chão da sala, pelos dentes e unhas da besta mais feroz que já habitou minha casa: meu cãozinho Pumba.
Ao constatar o irreparável, a perda do único álbum que eu me prestei a colecionar e completar em minha finda juventude, para isso trocando cartas com figurinhas com pessoas de vários estados, o pensamento primeiro foi: "não dá mais, dessa vez o Pumba foi longe demais!!" 
De todos os estragos, a cortina, a poltrona, os móveis, tapetes, roupas, infinitos pares de chinelo e tantas outras badernas, aquela afronta fora sem igual! E dentre várias revistas da estante, justamente meu álbum da Disney? Oras! Isso eu não poderia tolerar.
Falei com minha irmã no mesmo instante. Entristecida, ela entendeu a situação e se propôs a procurar um novo lar para o demoniozinho. Ok. 
...  
Mas nem mesmo os 100 anos de Magia da Disney poderiam se igualar com uma mágica que acontecera nesse momento. De repente, bastou desligar o telefone e o imaginar o Pumba sendo levado embora, uma dor muito forte me atingiu, e então me ocorreu que eu poderia, sim, sobreviver à perda do álbum, e poderia mesmo, numa situação difícil, ficar sem meus móveis, meus livros, minha casa e todos os bens materiais contida nela, e também poderia abrir mão de todo meu conforto, mas, na necessidade de escolher, sairia caminhando com meu Pumba no colo, vazia por fora e cheia por dentro, pelo mundo afora. E percebi que o amo profundamente, já não importa que ele seja uma criança feliz e destruidora, e o amo ainda mais por me mostrar que, o que realmente tem valor nessa vida, jamais poderá ser picado e destruído.

sábado, 31 de dezembro de 2011

Feliz Ano Todo!


Nessas últimas horas de 2011, está sendo difícil me despedir desse ano que me trouxe tantas alegrias: realizei um grande sonho, viajei muito, conheci pessoas incríveis e eternas, arranjei um emprego maravilhoso e amadureci em 1 o crescimento de 10 anos.
A princípio relutante, desisti de passar a virada fora de casa, porque não importa onde eu esteja, a felicidade está aqui, dentro de mim. Aliás, me despeço de 2011 tão feliz, mas tão feliz que chego a temer 2012 e a possibilidade de que ele supere esse que foi um ano que me deu 2011 motivos pra sorrir... mas, quero pagar pra ver. Que venha, 2012, que eu já estou aqui, pronta e inteira pra você.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Geek Moment

Muitas coisas pra dizer, mas com o tempo curto, passo rapidamente para deixar dois links bem bacanas:

O primeiro é o serviço do Mail Big File, um site que permite enviar arquivos de até 300MB diretamente para um e-mail selecionado. É muito simples e eficiente, e até agora a melhor maneira que encontrei para compartilhar as fotos de viagens com meus amigos, de forma mais rápida e prática.

E a segunda dica é o Kuso Cartoon, com o qual se criar imagens em forma de cartoon, também grátis e sem necessidade de cadastro! Estou usando para fazer meu convite de aniversário e o resultado está ficando bom, talvez só precise de uns ajustes finais que o PhotoScape dá conta! =)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Casos de Família

Sempre doloroso lidar com a perda de alguém que amamos, sobretudo quando a escolha da partida segura-se num daqueles brutais e destruidores preconceitos que formam o vasto portfólio do homem.

E os olhos mareando, a caminhada vezes se tornando árdua, surge a hesitação e o anseio de prender a vida num desses cantinhos excêntricos que esbarramos pela estrada, na vã esperança de que estaremos, enfim, nos preservando intactos às angústias do caminho.

Posta a ferida e seu estágio de fragilidade, nada mais resta, então, senão escolher seguir adiante, fazendo das dores as guias que apontam novos rumos a trilhar nessa difícil (e inesgotável) jornada de virmos de fato um dia a ser humanos...

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Encontro

Ontem me deparei inesperadamente com um amigo que não via há anos. Ainda melhor que a alegria do reencontro, foi o tranquilizante contentamento por sentir que ele permanece o mesmo, tal como o conheci e convivi. Fiquei buscando a causa dessa felicidade momentânea; e penso que talvez nós precisemos dessa certeza de que as coisas se manterão suportáveis, sem as perdas, dores, sofrimentos, mudanças e desastres que nos miram pela vida. Acessar a essa ponte segura ao passado é trilhar o caminho de volta tal como João e Maria, através de migalhas deixadas, e acreditar que encontraremos a casa acesa, à nossa espera. É, ainda mais, nos mantermos estáveis perante nós mesmos, diante daquilo que somos e acreditamos ser. Psicanaliticamente, somos sempre em relação ao outro, e do outro dependemos para nos referirmos a nós mesmos; isso me lembrou um belo poema do Pessoa, Morte na Tabacaria: “Ele era fixo, eu, o que vou”.